Durante toda a vida, o indígena e piloto de embarcações Heleno Mura convive com as dificuldades do isolamento por habitar no interior da mata amazônica, na aldeia Palmeiras, da Terra Indígena Capanã, a 90 km da sede do município de Manicoré/AM. Diante da pandemia da Covid-19, a situação se agravou, prejudicando ainda mais o acesso a serviços e produtos básicos para a sobrevivência de seu povo.

Em outubro de 2020, o que parecia um sonho distante tornou-se realidade: a instalação de energia solar e ponto de internet na comunidade diminuíram em um clique a distância de seu território ao mundo externo. “Como piloto, levo sempre muitos doentes até a cidade. Mas esses dias mesmo uma criança teve falta de ar e se fôssemos levar até Manicoré, não sobreviveria, pois são de seis a oito horas de barco. Mandamos um ‘zap’ pra equipe de saúde indígena lá e através de uma ligação, essa vida foi salva: deram orientações ao agente de saúde, que cuidou da criança na aldeia. Mudou tudo”, comemorou Heleno.

Além da TI Capanã, a Reserva Extrativista do Capanã Grande e outras quatro Terras Indígenas foram contempladas pelos equipamentos através do projeto Salvaguardas Sociais e Planejamento Territorial na rodovia BR 319, liderado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB): TI Apurinã do Igarapé São João; TI Apurinã do Tauamirim e TI Sepoti (Tenharim). A organização compõe a Rede da BR-319 e está responsável pela elaboração dos Protocolos de Consulta de algumas TIs localizadas na área de influência da BR-319. “Levantamentos evidenciaram que muitas comunidades-chave para o processo de elaboração dos Protocolos de Consulta não tinham acesso garantido à internet, o que inviabilizava a comunicação com as lideranças numa situação de distanciamento social”, explicou Ailton Dias, coordenador do programa Ordenamento e Governança Territorial na Amazônia, do IEB.

Com a melhoria da infraestrutura de comunicação, o Conselho Nacional das Populações Tradicionais (CNS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e IEB organizarão atividades de capacitação pela internet visando preparar as lideranças locais para a elaboração dos Protocolos de Consulta no momento oportuno. 

As instalações dos equipamentos atenderam às exigências dos protocolos sanitários de proteção das comunidades, com autorização e acompanhamento da Funai e ICMBio.

Para Manoel Rego, coordenador da Associação de Moradores Agroextrativistas do Lago do Capanã Grande, da Resex Capanã Grande, em Manicoré, a chegada da internet representa uma grande conquista, principalmente nesse momento de isolamento social por conta da pandemia. “Para fazer contato com outras comunidades, amigos e parentes, a gente tinha que se deslocar para onde tinha internet e hoje, todos os dias podemos nos comunicar. Ela chegou para melhorar a nossa condição de vida. Conseguimos resolver vários problemas, como bancários. Estamos felizes e agradecemos por isso tudo”, ressaltou Manoel.

Edição 14 – Novembro 2020 – Interior em Foco