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Ciência e biodiversidade pela soberania e preservação das comunidades do rio Manicoré

Publicado em: 01/07/2022

As pesquisas de herpetofauna identificaram mais de 75 espécies de sapos, cobras e lagartos no rio Manicoré. Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace Brasil

Por Fernanda Werneck*

A região do rio Manicoré é muito única devido à diversidade de ambientes do local, que reúne floresta de terra firme, igapó, várzea, campinas e campinaranas em uma mesma área. Assim, é uma região em que diferentes espécies de anfíbios e répteis são encontradas ao longo uma mesma trilha aberta na floresta. Isso acontece, porque o rio Manicoré está localizado em uma região próxima à zona de contato entre a Amazônia e o Cerrado. Infelizmente, também está na fronteira de expansão do Arco do Desmatamento e ameaçado por diversas outras pressões sobre o ambiente. Portanto é uma região extremamente relevante para a conservação sustentável da biodiversidade, e a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) será um exemplo emblemático de como fazer isso unindo os diversos setores da sociedade civil, cientistas, ambientalistas e comunidades tradicionais.

Fernanda Werneck se dedica a pesquisa de cobras, lagartos e anfíbios. Foto: Nilmar Lage/Greenpeace Brasil

Eu e minha equipe viemos ao rio Manicoré com o objetivo de realizar o inventário da herpetofauna, que reúne anfíbios e répteis, para responder perguntas como: quantas e quais espécies existem no rio Manicoré e onde ocorrem?

Em 15 dias, identificamos mais de 75 espécies das principais famílias de lagartos, serpentes e anfíbios que esperávamos para a região. Considero um número bastante representativo, mas ainda subestimado, pois conduzimos um levantamento rápido e no verão amazônico. Nossos resultados mostram que as florestas do rio Manicoré são ricas e diversas e devem ser conservadas.


Também tenho que citar que nossa experiência foi muito rica devido ao contato com os seus moradores, que detêm um conhecimento enorme sobre o território. Não é sempre que temos a oportunidade de fazer trocas de informações e conhecimentos de forma tão direta com as comunidades tradicionais. Moradores do território nos acompanharam em diversas idas à floresta, de noite e de dia, e nos ensinaram como eles chamam os bichos, que é diferente em outras regiões na Amazônia, aonde os animais são encontrados e outras informações que só quem mora no local pode ter.

Esse trabalho que fizemos no rio Manicoré foi não apenas para inventariar animais, mas para apoiar as comunidades do território no seu pleito, de reconhecimento da área como uma RDS. Fizemos a pesquisa para apoiar uma causa que vai se reverter não só na preservação da biodiversidade de todo o bioma amazônico, mas na soberania e preservação das comunidades que vivem, amam e dependem de todas as espécies existentes no território.

*Pesquisadora, Curadora da Coleção de Anfíbios e Répteis e Coordenadora do Programa de Coleções Científicas e Biológicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Esteve com sua equipe no rio Manicoré na expedição Amazônia que Precisamos a convite do Greenpeace Brasil.

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