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Fome de sal na Amazônia 

Publicado em: 04/01/2023

Borboletas também se alimentam de sódio liberado pelo suor humano. Foto: Sergio Santorelli Jr./Ufam-Humaitá

Por Sergio Santorelli Junior* 

Fome de sal na Amazônia? É isso mesmo? Sim, mas, antes, é preciso explicar que estamos falando de um elemento químico chamado sódio, um dos principais componentes químicos encontrado no sal e no nosso suor. O sódio é um dos elementos biológicos essenciais para a maioria dos animais. Ele é necessário para o crescimento, manutenção e sobrevivência. No entanto, não está igualmente disponível na natureza. As regiões próximas ao mar, geralmente, têm as maiores concentrações de sódio, ao contrário do que acontece em alguns locais da Amazônia, que possuem menores quantidades, como por exemplo, as florestas no entorno da BR-319. 

A necessidade de sódio nessa região é facilmente percebida. Insetos, especialmente abelhas, estão por toda parte lambendo o sódio liberado na nossa pele pelo suor e entranhado em roupas, mochilas e ferramentas de trabalho. Abelhas, borboletas e outros insetos que, frequentemente, se alimentam de néctar e pólen que coletam das flores são os visitantes mais frequentes e famintos pelo nosso suor. Quem já caminhou dentro da floresta, às margens da rodovia, já deve ter passado por essa experiência e percebido que não é fácil fugir desses insetos.

Abelhas, atraídas pelo vestígio de suor, pousam no cabo de um terçado usado pelos pesquisadores na floresta. Foto: Sergio Santorelli Jr./Ufam-Humaitá

Entender mais sobre a concentração de sódio nas florestas pode melhorar o nosso entendimento de como as espécies amazônicas estão distribuídas, além de permitir levantar outras questões, como por exemplo: a falta de sódio pode afetar a polinização das flores pelas abelhas? A resposta para essa pergunta é um dos objetivos das pesquisas que estão sendo realizadas na área de influência da rodovia. 

Atualmente, sabemos que as abelhas são importantes e muito eficientes para polinizar as plantas, e sabemos que, sem a polinização, não é possível gerar frutos e, sem frutos, não teremos sementes e, sem sementes, não teremos novas plantas.   

Uma melhor compreensão das necessidades básicas desses organismos e de muitos outros é crucial para prever a distribuição das espécies e para entender como elas interagem com o ambiente, especialmente em cenários de mudanças climáticas e problemas provocados pela presença humana, que podem alterar os padrões de concentração de sódio na floresta e, portanto, a fome de sal. 


*Pesquisador vinculado a Universidade Federal do Amazonas – Humaitá (AM) através do Programa de fixação de Recursos Humanos no Interior do Estado (FAPEAM – PROFIX Edital 009/2021)

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