Protagonizar a própria história, com liberdade, igualdade, respeito e valorização da cultura local, através da difusão de informações de qualidade. Essa é a essência da Rádio Floresta, que nasceu há um pouco mais de um ano e meio, no município do Careiro, Amazonas, para dar voz e vez à juventude local. 

A concretização da Rádio Floresta representa a união dos sonhos de três jovens com interesse na área de Comunicação, com o do artista plástico paulista Gustavo Torrezan, que ansiava conhecer mais sobre a floresta a partir dela própria. “Como fazer com que a voz deles ecoasse entre eles e como fazer com que pessoas como eu, de fora da região, pudesse aprender com essas vozes e, sobretudo, ter o privilégio da escuta?”, questionou-se. 

Em São Paulo, Torrezan conseguiu sensibilizar amigos que contribuíram com a causa e, em janeiro de 2019, antena e transmissor foram instalados na sede da Casa do Rio, já frequentada pelos mesmos jovens, desde 2016. Ele também levou uma mesa de quatro canais, caixas de retorno, fone de ouvido e três microfones. “Quando sintonizamos o rádio em 88.9 e eu escutei minha voz, meu coração se encheu de emoção. Era quase que inacreditável”, lembrou Huanderson Silva, de 20 anos, estudante de graduação em Marketing, que vislumbra o Jornalismo como carreira profissional.

Mas em duas semanas tudo foi desligado: transmissões em frequência modulada (FM) precisam de concessão governamental. “Estamos correndo atrás para a legalização da rádio, mas não desistimos, não”, contou Huanderson. Juntos, encontraram uma nova alternativa para continuar levando informação, cultura, entretenimento e lazer, principalmente para moradores do Setor Norte da BR-319. Mesmo com qualidade deficitária de internet, comum em todo o interior do Amazonas, os jovens conseguiram criar o aplicativo da Rádio Floresta para celular e iniciaram as transmissões também pelo Facebook. 

Com uma programação diversificada, a rádio aborda temas atuais e relevantes, como o empoderamento feminino, abusos sexuais, importância da mulher no mercado de trabalho e no campo, comunidade LGBTQIA+, violência doméstica. “Falar em uma rádio livre, sem vínculo religioso, nem político, que não tem tabus para expressar determinados assuntos é prazeroso e desafiador ao mesmo tempo”, ressaltou Francimara Gomes de Araújo, de 25 anos, que apresenta o ‘Castanho nas Letras’, sobre Literatura, desde o início do projeto. “A rádio representa o meu poder de fala; poder de expressar minha opinião. Ela é aberta para quem quiser agregar”, disse a apresentadora, formada em Letras pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA). 

Assuntos relacionados à BR-319 são debatidos no ‘Voz do Igapó-Açu’ produzido e apresentado por Angel Batista de Souza, morador da comunidade São Sebastião do Igapó-Açu, no Km 250 da BR-319, que está finalizando licenciatura em Pedagogia. Com o programa semanal, Angel pretende “contribuir para expansão da rádio no território e manter os ouvintes informados sobre tudo que acontece na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Igapó-Açu e ao longo da BR”. 

Os próprios jovens protagonizam a governança da Rádio Floresta, voluntariamente. Huanderson é o diretor e conta com a parceria de Jones Augusto como operador de áudio, que também contribui com conteúdo para as mídias sociais. Cada apresentador se responsabiliza pela produção de seus programas. A equipe da rádio é formada por aproximadamente 10 jovens. 

“A Rádio Floresta representa uma parte da minha vida. Eu, com 19 anos, ajudei a criar uma rádio que no futuro vai ser um sucesso. Eu vou contar essa história para meus filhos. Para mim é uma honra participar desse projeto”, finaliza o jovem diretor.

Edição 11 – Agosto 2020 – Interior em Foco