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Florestas com lençol freático raso e a BR-319: qual sua importância e o que isso tem a ver com as mudanças climáticas?

Publicado em: 01/09/2022

Registro realizado em um dos módulos de pesquisa do PPBio/Inpa. A foto mostra o relevo com o lençol freático superficial na BR-319. Foto: Thaise Olimpio/Unicamp

Por Thaiane Sousa

Sim, nós vamos falar de novo de lençóis freáticos, porque o assunto é importante, pois eles são a fonte de abastecimento subterrâneo de água para a floresta. Em época de pouca chuva, é dele que as plantas tiram grande parte da água que precisam. Portanto, o lençol freático tem papel fundamental no funcionamento da floresta.

Florestas localizadas sobre lençol freático raso, menor que cinco metros de profundidade, como os da área de influência da BR-319, têm uma dinâmica de crescimento e mortalidade diferenciada. Nestes locais as plantas têm um desafio a mais para conseguirem crescer: o excesso de água no solo. Esta condição durante a maior parte do ano proporciona, em média, crescimento mais lento e mortalidade mais elevada das plantas.

Mas por que entender isso é importante? Uma das causas do colapso climático é o aumento na emissão de carbono para a atmosfera, que potencializa os efeitos do aquecimento global. As florestas têm o poder de absorver e emitir carbono para a atmosfera. A absorção de carbono ocorre através do crescimento das árvores, já a emissão de carbono ocorre quando essas árvores morrem. Por isso, é importante compreender em que condições ambientais as florestas estão crescendo e morrendo mais.

As florestas com lençol freático raso ocupam aproximadamente 50% do território amazônico e têm papel fundamental como sumidouros de carbono da atmosfera, principalmente em períodos de secas extremas. Isso porque diversos estudos já mostraram que durante os períodos de secas fortes, como a de 2015, há um aumento na mortalidade e redução no crescimento das árvores. Porém, em florestas como as da BR-319 a redução do nível do lençol freático durante a seca reduz o estresse promovido pelo excesso de água e ainda assim supre as necessidades hídricas das plantas, promovendo maior crescimento e menor mortalidade da floresta, tornando assim essas regiões importantes sumidouros de carbono da atmosfera em períodos em que outras partes da floresta, principalmente aquelas localizadas em lençol freático profundo, estão emitindo mais carbono.

Conhecer e conservar a floresta amazônica é essencial para o futuro da nossa sociedade. A criação de políticas públicas para manutenção da floresta em pé é de extrema importância para a contenção da crise climática global.

Thaiane Sousa é doutora em Ecologia pelo Inpa e estuda conservação e ecologia florestal.

As informações estão no artigo Water table depth modulates productivity and biomass across Amazonian forests, publicado na revista Global Ecology and Biogeography e escrito por Thaiane Sousa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e colaboradores.

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