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Espécie de rã ainda desconhecida para a ciência ao longo da BR-319 começa a ser estudada por pesquisadores

Publicado em: 02/11/2022

Rã da espécie Phyzelaphryne sp. Foto: Albertina P. Lima/Inpa

Por Eduardo Moreno¹ e outros²

A rãzinha Phyzelaphryne sp. é nova para a ciência e pouco se conhece sobre o ambiente ideal necessário para que essa espécie possa sobreviver na natureza. É provável que ela, assim como a maioria dos sapos, rãs e pererecas, seja muito sensível às mudanças ambientais e precise de condições muito específicas para se reproduzir e para se manter hidratada, já que parte da respiração desses animais é feita através da pele.

Essa rãzinha tem aproximadamente 1,5 centímetro de comprimento e hábitos terrestres. Os ovos são colocados fora da água pelas fêmeas e eclodem já na forma de miniaturas dos adultos. Até o momento, sabemos que a espécie ocorre nas florestas ao longo de toda a BR-319 e seu canto pode ser ouvido na floresta entre o meio e fim da tarde durante a estação chuvosa. E esta rã não está só: uma outra rãzinha, muito similar, chamada Phyzelaphryne mariamae, também ocorre ao longo de toda a rodovia. Na ciência, quando duas espécies são muito similares entre si, podemos esperar que elas tenham as mesmas necessidades ambientais. Quando isso acontece, em muitos casos uma espécie pode competir com a outra por algum recurso ambiental, levando a espécie competidora mais fraca à extinção local. Curiosamente, essas duas espécies ocorrem juntas na BR-319 e nenhuma delas pôde eliminar a outra. Sendo assim, o que poderia explicar essas duas espécies ocorrendo nos mesmos locais ao longo da rodovia?

Nossas observações demonstraram que elas usam ambientes diferentes. A espécie Phyzelaphryne mariamae ocorre principalmente nos locais com menos chuva, enquanto a nova espécie, Phyzelaphryne sp., é mais generalista e não apresentou nenhuma preferência pelas características do ambiente utilizadas no nosso estudo.

É possível que haja outros fatores importantes que não foram considerados no estudo. Iniciativas de estudos ecológicos de longo prazo na BR-319 permitirão entender mais sobre quando e onde elas ocorrem, contribuindo não apenas para a conservação dessas duas espécies, mas para muitos outros organismos que ainda não são conhecidos pelos cientistas e contribuem para a rica biodiversidade da região.

¹Eduardo Moreno é mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e para estudar a ecologia de anuros da BR-319 teve o apoio dos Programas: PPBio na Amazônia Ocidental (PPBio-AmOc), do INCT Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (INCT-CENBAM), e do PELD Sudoeste do Amazonas (PELD-PSAM).
²Sergio Santorelli Junior, da Ufam Campus Humaitá (AM) e Fapeam/PROFIX-RH 009/2021; Miquéias Ferrão, da Harvard University; Pedro Pequeno, da UFRR Campus Boa Vista (RR); e Albertina Lima e William Magnusson, do Inpa.

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